«Se conhecesses o dom de Deus», disse Cristo à mulher samaritana (Jo 4,10).
Mas qual é esse dom de Deus, senão Ele mesmo? E diz-nos o discípulo amado: «Veio para o que era seu, mas os seus não O receberam» (Jo 1,11).
São João Batista poderia dizer, ainda hoje, a muitas almas estas palavras de censura: «No meio de vós – em vós – está quem vós não conheceis» (Jo 1,26; Lc 17, 21). «Se conhecesses o dom de Deus!»
Houve uma criatura que conheceu este dom de Deus, uma criatura que foi tão pura, tão luminosa, que parece ser a própria Luz: «Speculum justitiae / Espelho de justiça».
Uma criatura cuja vida foi tão simples, tão perdida em Deus, que dela não se pode dizer quase nada. «Virgo Fidelis»: Ela é a Virgem fiel, aquela que «guardava todas as coisas no seu coração» (Lc 2,19.51).
Ela permaneceu tão pequena, tão recolhida diante de Deus, no segredo do Templo, que atraiu a complacência da Santíssima Trindade: «Porque olhou para a humilde condição da sua serva, desde agora me proclamarão bem-aventurada todas as gerações» (Lc 1,48).
Inclinando-Se para esta criatura tão bela, tão ignorante da sua beleza, o Pai quis que Ela fosse a mãe, no tempo, daquele que é o Pai na eternidade.
Então veio o Espírito de amor que está por trás de todas as operações de Deus; a Virgem disse o seu fiat: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra», e realizou-se o maior dos mistérios.
E, pela descida do Verbo, Maria ficou para sempre presa a Deus.