As leituras de hoje são ótimas! Como sempre. Na verdade, a nossa abertura de espírito é que pode facilitar ou dificultar a entrada das noções básicas que precisamos ter.
A primeira leitura é muito clara na divisão entre o Antigo e o Novo Testamento. A Lei, ou seja o Antigo Testamento faz parte da fase, digamos menos democrática das relações do homem com Deus (eu disse do homem com Deus e não vice-versa). Dai foram criadas rotinas, receitas, procedimentos, regras, sacrifícios, holocaustos, etc., em nome de uma receita para se chegar a Deus. Alguns poucos homens "falavam" com Deus e transmitiam os recados Dele para nós.
E a leitura é bem clara em dizer que a Lei faz um esboço dos bens futuros e não o modelo real das coisas. Fala que a repetição dos sacrifícios, rituais, etc., não leva a nada, não leva à perfeição, principalmente se repetidos sem se saber para que e como servem.
Esse é um ponto muito sério da religião. Se a gente não entende, não assimila, não engole e não digere alguma coisa, essa coisa não entra em nós. O Antigo Testamento muitas vezes afasta as pessoas da religião e portanto de Deus. Principalmente quando somos catequizados com base nele. Com base em um Deus punidor. Com base no sentimento de culpa. Com base em um conceito de pecado e de erro em que TODOS se enquadram e quase ninguém se salva.
Não podemos gostar de alguma coisa, se não a conhecemos. Não podemos amar a Deus se não o conhecemos. Não gostamos de ficar perto de pessoas severas, cobradoras, julgadoras. Sempre que podemos, ficamos longe delas. Os conceitos acima nos jogam para longe de Deus. E a culpa não é nossa. Fizeram isso conosco. Não quiseram nos mostrar o Deus verdadeiro. E quem teria feito isso? Quem tem esse interesse? Pense!
No Evangelho, Jesus fala de novo sobre o desapego. Não está menosprezando sua mãe e seus parentes (irmãos ali, são os primos: em hebraico não há diferença entre as palavras irmão e primo). Ele está na verdade ressaltando a importância de fazer a vontade de Deus (o mesmo que diz parte da 1a. Leitura).
É muito interessante: precisamos primeiro desapegar de tudo, mas tudo mesmo: das coisas e das pessoas ("quem tem, haja ou viva como se não tivesse", disse São Paulo), para comungar com Deus através de Jesus e do Espírito Santo, arraigar a caridade por todo o nosso ser e voltar para as pessoas com outro olhar. O olhar de Deus. Carinhoso, compreensivo, manso, bom entendedor da fragilidade e pequenez das pessoas. De todas elas. Mesmo que elas queiram nos ofender (e não conseguem pois as entendemos antes delas perceberem...). Isso é fazer a vontade do Pai.
Senhor, dai-me forças, sabedoria, inteligência, para eu não ser levado pela correria do dia a dia, pelas preocupações que o dinheiro traz, pelos compromissos que crio e que são sem importância e nem percebo; para que eu não desvie o foco, os ouvidos, a minha mente e o meu coração das coisas que o senhor me fala. Através das pessoas, das leituras, das orações.
Amém.
AEAD